Fw: «A Febre» de Wallace Shawn | Dia Mundial do Teatro na Casa da Música | 27 Mar 2011 | 21:30


«A Febre» de Wallace Shawn

O teatro e a música trocam de casa para se celebrarem: a Casa da Música comemorou, no dia 1 de Outubro, o Dia Mundial da Música no TNSJ, que no dia 27 de Março retribui o gesto, assinalando o Dia Mundial do Teatro no edifício de Rem Koolhaas. Na ocasião, João Reis interpreta A Febre, monólogo incómodo de Wallace Shawn, actor que reconhecemos de filmes de comédia norte-americanos, mas que é também autor de peças politicamente controversas. Neste texto de 1990, o dramaturgo explora sem piedade a ambiguidade moral da América liberal na relação com os países do "terceiro mundo". Num cenário de guerra, um homem adoece num miserável quarto de hotel. Olhar pela janela implica testemunhar execuções e outras atrocidades. Mergulho em profundidade na consciência da culpa, este A Febre encenado por Marcos Barbosa tem em João Reis um intérprete inteiro, que nos devolve um teatro para ver o mundo no dia em que o mundo olha para o teatro.

A Febre é um texto político, com certeza, mas não como esses outros, aqueles outros, esses tais que sabiam a verdade toda, e a verdade logo com V grande, ó caneco, e não admitiam qualquer "senão", nenhum "porém", nem sequer um tremelicante "quê?". Não, este A Febre não é nenhuma cassete desbobinada a partir do púlpito ou do palanque, aqui não há nada dessa pose de "dono da verdade" de tanto texto dito "político". Aqui "político" não precisa de aspas, aqui "político" não é a tradução nacional-porreirista de "fraquito", ou "ali entre o medíocre e o mediano", ou chato-como-a-potassa-mas-aguentem-lá-em-nome-da-crença-ideológica-ou-clubística-cá-da-malta. Nesta magnífica peça - monólogo? conto? ensaio? discurso? - de Wallace Shawn, o político vem do próprio texto, não aparece imposto de fora, caído de pára-quedas, descido dos céus para nos vender uma qualquer metáfora-lição em palavras de pedra. Aqui o político surge das entrelinhas da vida; de uma vida na primeira pessoa que nos é mostrada mais do que explicada. Aqui o político implica-nos de imediato porque parte de um viver concreto, de uma história bem-feita, isto é, feita verdade.
- Jacinto Lucas Pires -
Excerto de "Punho fechado". In Solos: [Programa]. Porto: Teatro Nacional São João, 2010.
João Reis interpretação
Jacinto Lucas Pires tradução
Marcos Barbosa encenação
F. Ribeiro cenografia
Susana Abreu figurinos
Pedro Carvalho desenho de luz
Emílio Gomes assistência de encenação
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PRODUTOR: Teatro Oficina
ORGANIZADORES: TNSJ/Casa da Música
Espectáculo apresentado no âmbito do programa ODISSEIA: DIA MUNDIAL DO TEATRO
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Espectáculo de entrada livre
Bilhetes disponíveis a partir de 21 de Março 2011, até ao limite de 4 por pessoa

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