:: O espectáculo de uma estrela pop chamada David Fonseca

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:: Crítica
O espectáculo de uma estrela pop chamada David Fonseca

10.04.2010 - 08:49 Por Mário Lopes

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David Fonseca
9 de Abril, 21h45
Coliseu dos Recreios, Lisboa
Próximo da lotação máximaVer blogue
Três estrelas

Em palco, David Fonseca é um showman que não perde tempo a aquecer corações ansiosos por um carinho Em palco, David Fonseca é um showman que não perde tempo a aquecer corações ansiosos por um carinho (PÚBLICO)

Dos discos, guarda-se principalmente o tom intimista. Nos discos, David Fonseca até acelera em popes e roques, mas a imagem que se retém das suas canções é outonal: amores suspirados, assobios melancólicos, dias passados num quarto a pesar a vida que foi. Claro que isto é apenas meia verdade. Precisamente meia verdade, que os seus álbuns, desde "Dreams In Colour", o penúltimo, e neste "Between Waves" que trouxe ontem ao Coliseu dos Recreios (dia 16 chegará ao do Porto), depois de o apresentar em auditórios país fora, têm-se equilibrado entre a introspecção e um pulsar pop declarado, ideal para trautear sem discrição.

Num Coliseu lisboeta muito perto de lotado, não houve meio termo. Em palco, David Fonseca é um showman que não perde tempo a aquecer corações ansiosos por um carinho. Luzes (muitas, compondo as telas que emolduravam o cenário), câmara (sempre uma noção de cena, da cabine telefónica instalada em palco, aos mariachi aparecendo de surpresa a soprar metais num camarote), acção (as canções a sucederem-se quase sem pausas, o público a responder com palmas, muitas palmas a marcar o ritmo no ritmo certo, o que é um feito assinalável).

Durante cerca de duas horas, não se assistiu a uma apresentação de "Between Waves". Esse é apenas o nome do último disco e, consequentemente, da digressão. Isto porque os quatro álbuns a solo lhe permitem construir um alinhamento em forma de galeria de êxitos e porque David Fonseca construiu com o passar dos anos uma noção de espectáculo em que as suas canções são um centro agregador, mas não exclusivo. O público que o foi ver ao Coliseu não estava lá simplesmente para as ouvir, estava para ver aquilo que ele montara com elas. O impacto do seu concerto, nesse sentido, é superior à sua música - "that's entertainment", como se diz em língua "cámone".

Estiveram lá as suas canções: "A cry for love", com batida resgatada à imortal "Be my baby" da Ronettes, que surge a início, "There's nothing wrong with us" a pedir dança sobre teclados 80s (década omnipresente no concerto) ou a "Superstars" de assobio famoso, essa que chegou depois de David Fonseca aceder ao pedido do público (coisa futebolística de olés e "salta David, e salta David") e ensaiar uma pose devidamente cinematográfica. Ouviu-se "Gelado de verão", o esquisso de António Variações a que deu corpo com os Humanos, ou a euforia rock de "The 80s", porventura a sua melhor canção. Mas, para além de tudo isso, esteve lá representado todo um imaginário, numa excessiva nostalgia de referências: o início com Pet Shop Boys ou Queen, imediatamente antes da entrada em palco, Cindy Lauper na versão de "Girls just wanna have fun" ou o gozo de transformar os acordes de "Borrow", essa mesmo, dos Silence 4, na inenarrável "The roof is on fire", dos não menos inenarráveis Bloodhound Gang.

O autor de "Someone who cannot love", outra das canções da noite, soube construir-se como estrela pop e o concerto, verdadeiro frenesim de gritos e aplausos, de parzinhos abraçados e de solitários que gostariam de ter par, todos a cantar todas as letras de todas as canções, ofereceu o que de uma se espera – mesmo se, no corrupio de versões e no obsessão pela década de 1980, ele mesmo se eclipse um pouco.

A convidada Rita Red Shoes, teclista da banda de David Fonseca antes de se lançar numa carreira a solo, surgiu para o momento "americana" da noite com uma versão de "Handle with care", dos Travelling Willburys, e uma "Hold still" que Josh Rouse não desdenharia ter composto. No primeiro encore, viagem ao passado do cantor no existencialismo adolescente de "Angel song", dos Silence 4. No segundo, o David Fonseca "showman" a revelar-se sem qualquer pudor. Invadiu o camarote presidencial enquanto se ouvia a melodia de "Sabotage" dos Beastie Boys, transformou-se depois disso em David Guetta e o Coliseu foi durante alguns minutos cenário de rave improvisada. A batida manteve-se, incessante, até ao regresso ao palco. Ali chegado já não era David Guetta, era David, o Fonseca, a oferecer a sua canção para festa no clube, "Raging light".

Os "leds" dos diversos ecrãs piscavam sem cessar, os confettis já tinham caído sobre a multidão, a pirotecnia preparava-se para explodir. O público estava saciado. Fim de espectáculo. Missão cumprida.
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